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sexta-feira, 11 de julho de 2008

Lei Seca: uma boa idéia?


Adotada pelo casal Estado/Nação, que vive um relacionamento aberto – democraticamente fantasioso –, a Lei Seca cresceu com a referência negativa de pais que já não discutem as crises da relação. As "brigas" pelo bem comum, que já foram freqüentes, aos poucos cedem espaço à indiferença dos pródigos filhos – os cidadãos –, que, à revelia do papel de conceitos transcendentais de convivência social, amadurecem cedo ao sol das virtudes tortas de interesses particulares. E é travestindo-se de rebento que a Lei Seca pretende gozar de toda a estrutura tropicalmente adaptada de um doce lar da zona sul do Equador: o Brasil.
À bem da verdade, para amadurecer, esta já famosa lei precisa confiar menos na propaganda – notícias que a encaram positivamente como a verdadeira artífice da mudança cultural –, e crer incondicionalmente no milagre do resgate de valores da educação e da família, aceitando que os frutos do processo de mudança, por prudência, devem ser colhidos por todos os lavradores, e que o prazo deste tipo de cultivo é naturalmente longo.
Sozinha, afinada com os mecanismos de opressão, fria aos apelos de um contexto politicamente confuso, e distante de um aparato instrumental capaz de estimular a pureza da responsabilidade – como a filosofia da educação –, a Lei Seca perde a chance de ser melhor! Estatisticamente, seus resultados agradam. Mas o que ainda incomoda os espíritos verdadeiramente democráticos é a metodologia, fundada pela triste necessidade da vigilância integral. Fator que, embora não justifique um movimento de reivindicação pelo seu fim enquanto dispositivo, choca justamente por denunciar uma realidade onde a maturidade da autonomia dos deveres sociais ainda é julgada – e não desenvolvida – pela dinâmica de um Estado que multiplica seu poder omitindo-se do legítimo papel de estimular a emancipação dos sujeitos. E é esta disfunção, aliás, quem alimenta as justificativas à resistência de opor-se à lei simplesmente para garantir o direito de dirigir após beber; atividades cuja “coligação” é naturalmente condenada pela lógica.

Um comentário:

Temperos e Desesperos disse...

Fantástico teu texto! (o que não é novidade, diga-se de passagem)

Como já dscutido anteriormente, vejo que algum passo radical tinha de ser dado. É o famoso "pega no tranco"...
E diga-se de passagem, a redução nas estatísticas de acidente também devem ser valorizadas. Creio que a Lei tenha seus meritos também.

Abraço!