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sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Os estigmas de um emergente

O gigante asiático foi despertado à luz do globalizado século XXI sob as atraentes promessas do opulento projeto de desenvolvimento econômico que se alimenta da gordura derramada pelos corpos dourados das batatas fritas e dos hambúrgueres do Mcdonalds. E quem delicia-se com este verdadeiro banquete cultural é o pragmatismo importado do ocidente, que sentou-se confortavelmente à mesa, e, sem fazer cerimônias, está devorando em mastigadas lentas e impiedosas a tradição milenar deste deslumbrado emergente que ousa honrar as convenções de anfitrião. Cedendo educadamente ao apelo competitivo para ruminar o seu sistema de Democracia Socialista, a verdade é uma testemunha de que a China está preparando o estômago para assinar um incoerente e irrevogável contrato com o dragão a quem outrora combateu: o neoliberalismo.
Na terra de Mao Tse-Tung, este é o ano do rato; período astrológico caracteristicamente marcado por poucas guerras e conflitos, menos catástrofes e excelentes resultados em negócios e investimentos à longo prazo. Mas os chineses estão dispostos a brigar, pois vencer os Jogos Olímpicos de Pequim é o caminho mais curto para disseminar, com a ajuda da propaganda, o discurso de que o país desenvolveu um sistema político-administrativo proporcionalmente complexo e poderoso. E, se tudo der certo, talvez o mundo até esqueça-se de que o maior país da Ásia cresce impulsionado pelos mesmos combustíveis que alimentaram a Revolução Industrial do século XIX: a fé no lucro do liberalismo econômico e as nuvens pretas do carvão e da impotência do trabalhador.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

O presidente vazio

O discurso nacionalista do presidente Hugo Chávez apresenta-se superficialmente como um ícone idiossincrático. À bem da verdade, suas propostas político-administrativas são sensível e paradoxalmente definidas como neopopulistas ou bolivarianas. Mas a natureza relativa destes ensaios interpretativos é produto da escassez conceitual de referências básicas e universais. Enquanto político, portanto, Chávez não consegue despir a fantasia de artífice do arquétipo demagogo.
Profissionalmente comprometido com o projeto de converter-se em objeto de adoração nacional, no início do mês, o Chávez venezuelano protagonizou uma cena à altura do estilo trapalhão de seu homônimo mexicano. Aliás, preenchendo um espaço público destinado ao debate de questões relevantes à nação com a narração da dificuldade que enfrentou para administrar uma crise de diarréia, o presidente da Venezuela ofereceu ao mundo – talvez sem querer querendo – provas irrefutáveis de que realmente é um político física e ideologicamente vazio.