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quarta-feira, 23 de julho de 2008

As antíteses da coerência instrumental

Os alemães se depararam com um espelho distorcido no despertar do julho de 2008, quando um homem de 41 anos, cujo nome não foi divulgado, decapitou a estátua de cera do ex-ditador nazista Adolf Hitler (registrada pelas lentes de Miguel Villagran, da AP), que se encontrava sentado a uma mesa estrategicamente alojada em uma sala do Museu Tussauds, em Berlim. Gritando “Guerra nunca mais!”, o algoz da estátua valeu-se de um machado para isolar a representação da mais poderosa arma utilizada por um ditador: a cabeça! Mas, como a podridão que emerge de uma infrutífera antítese, a atitude deste artífice da justiça irracional reafirmou o poder simbólico da figura de Hitler, representação que fere seu opositor através do estímulo inconsciente à violência. E a nova vítima da implacável força é a coerência cognitiva, o órgão vital de qualquer proposta ideológica. No tocante à oposição ao nazismo, o organismo deveria nutrir-se de um conceito que vislumbra o processo de mudança através da simbiose discurso/prática. Afinal, reservar à imagem de Hitler uma raiva aniquiladora, capaz de consagrar a dinâmica da força física como instrumento político-administrativo, é metodologicamente igualar-se a ele.
Os sérvios, por sua vez, refletiram os pujantes raios da democracia ocidental com o processo de investigação que culminou na prisão de Radovan Karadzic, o genocida que governou a Bósnia no quadriênio 1992-1996, e atualmente vivia na capital Belgrado sob a identidade falsa de um especialista em medicina alternativa que ensinava técnicas de relaxamento. O julgamento deste psiquiatra, poeta e ex-líder que armou o cerco a Sarajevo no início dos anos 1990, e manteve dezenas de campos de concentração sob a justificativa de promover a “limpeza étnica” da atual Sérvia, atende a uma antiga exigência da União Européia, bloco político-econômico do qual alguns pequenos países da Europa ainda não participam. Em verdade, tal exigência da U.E., ao estabelecer uma condição de negociação desequilibrada e estrategicamente hipócrita, serve para descredenciar os países pouco desenvolvidos através da comprovação de ineficácias administrativas. Mas a Sérvia surpreendeu. E, se Karadzic for entregue ao Tribunal Internacional de Justiça, o jovem país dará um firme passo simbólico no sentido da consagração do regime democrático de direito. E, neste projeto, o próprio Karadzic, enquanto prisioneiro de guerra, assume o papel de instrumento político-administrativo. Afinal, em uma demonstração de eficiência, o novo regime superou as velhas técnicas opressoras do antigo líder desencadeando um processo de captura coerente até no emprego dos dispositivos utilizados para conter os manifestantes pró-Karadzic – a da defesa contra a força do ataque sob a justificativa da manutenção da ordem.

Um comentário:

Temperos e Desesperos disse...

Sidi!
Olha esse blog, sobre a política no Estado, crises e tal... Creio que possa gostar.
http://www.rsurgente.net/


Beijos! =**