Pesquisar este blog

quarta-feira, 11 de março de 2009

Uma frase infeliz pode mudar o mundo

A cada disparo, uma polêmica. Quando o alvo são as convenções, nenhuma arma tem tanto poder quanto a semântica. E no chão, só as folhas de jornal aquecem os corpos que tombam estigmatizando consciências. Em Pernambuco, tratava-se de uma vítima. Não de um aborto, mas de um estupro.
A infância não será devolvida à frágil menina que aos nove anos carregava no pequeno ventre o involuntário peso de duas vidas. O procedimento cirúrgico que a salvou do parto chegou a condenar a equipe médica à excomunhão. Mas a maior ferida afligiu a infalibilidade papal, simbolizada pelo código do Direito Canônico. Com base no documento, as leis da Igreja foram aplicadas pelo arcebispo de Olinda, Dom José Cardoso Sobrinho. Em verdade, tratava-se de uma determinação eclesiástica. Mas seu grande impacto social ofereceu ao Estado Laico a chance de fincar raízes. À memória, o caso recomenda o resgate da imagem de Paulo Salim Maluf. Ou melhor, a lembrança de sua pior frase, proferida há 20 anos em uma universidade de medicina de Minas Gerais. Pois parece que a “distorcida doutrina” do “Estupra mas não mata!” continua servido aos discursos de oposição à banalização da morte.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Com a cabeça nas nuvens

Com uma máquina fotográfica aquele estudante franzino, de aparência pálida, capturou três soldados bolivianos, abrindo caminho através da sombria ponte. E dois minutos mais tarde, acomodado em uma pequena caixa, o chá que o ajudou a amenizar os efeitos da altitude rompeu a fronteira da Convenção de Viena. Em verdade, o derivado da Coca chegou ao Brasil embalado por uma simples mochila de náilon. Mas a negligência da polícia aduaneira pode ter atendido às pretensões econômicas de algum traficante naquela sexta-feira de verão.
A folha da Coca é o elemento básico do chá que os bolivianos consomem sob as perspectivas de oxigenar o organismo e regular a digestão. A fórmula é indígena, e antiga, mas seu lucro é o novo fruto de um capitalismo opressor. E é com a frieza de uma máquina que a pujante indústria do mais pobre país da América do Sul pretende envolver o Estado em seus próprios cofres. E o apelo é forte! Afinal, em apenas um ano, cerca de quatro mil toneladas da Coca boliviana se transformam em Chás, farinhas, biomedicamentos e outros produtos. Além disso, a demanda interna é uma fronteira relativamente larga; pela cultura, e especialmente pelas margens das convenções internacionais.