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terça-feira, 25 de novembro de 2008

Piratas somalis: os emergentes da África

A fome governa a Somália desde 1991, ano em que o país africano perdeu seu comando oficial. Sob o Regime da miséria, a nação assistiu à alienação de sua soberania. E a débil infra-estrutura estatal cedeu espaço à pirataria, atividade considerada subversiva desde a Idade Média, com a qual alguns somalis estão viabilizando a reprodução da economia capitalista.
É no Cabo da Boa Esperança, onde “desbravadores” e traficantes de escravos encontraram abrigo em tempos remotos, que os piratas somalis colhem o fruto que potencializa a construção civil da capital Mogadíscio: os petroleiros, navios cujos resgates oferecem aos novos ricos africanos a chance de erguer mansões sobre os barracos que outrora preenchiam o horizonte poeirento daquele pobre país.
Em 2008, mais de 65 barcos foram atacados pelos piratas somalis no Oceano Índico. E o mais recente alvo foi o superpetroleiro saudita Sirius Star, um dos maiores do mundo. Os seqüestradores, que tomaram a embarcação no dia 16 de novembro, exigem US$ 25 milhões de resgate – ¼ do valor do petróleo transportado pelo navio.
Um representante da ONU foi assassinado na Somália no início do mês. E parece que a situação do país ainda não sensibilizou as autoridades estadunidenses. Talvez nenhum navio da grande nação tenha sido seqüestrado. Ou trata-se apenas de um sinal de que o verdadeiro compromisso do Tio Sam definitivamente não se afina com a defesa da democracia quando o território é a África; seu antigo laboratório farmacêutico.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Obama: seu World é a Internet

A popularidade de Barack Hussein Obama subverteu o ufanismo estadunidense para encarar a crise econômica global. Mas o carisma do novo líder ainda não combinou com as bolsas. Sua imagem ainda pode ser analisada sob a luz dos mecanismos de representação. E, se o estilo de arte Kitsch que o envolveu continuar flertando com o posto de american way of life, o futuro pode exilá-lo no reino dos jogos políticos de alternativas previamente programadas. Aliás, a versão virtual deste universo já foi produzida pela empresa ZenSoft, que acaba de lançar na democrática Internet - canal com que Obama angariou fundos para a sua campanha milionária - o Super Obama Word. Mas os gráficos do novo jogo foram generosos com seu protagonista. Pois, no estágio da Casa Branca, o maior desafio da aventura de governar uma nação do porte dos EUA é não poder contar com mais de uma vida.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Obama: a vitória é do sistema

A indústria cinematográfica estadunidense – sustentada pelos estúdios milionários de Hollywood – empenha-se na construção de um herói negro há anos. E a figura idealizada sempre é atrelada à iconografia política; especificamente ao cargo executivo nacional, em filmes onde geralmente as personagens costumam solucionar racionalmente grandes crises “reais” – econômicas e/ou catástrofes naturais. A história dos Estados Unidos oferece Martin Luther King, o ativista entregue à luta contra a segregação racial que tombou no revolucionário ano de 1968, como referência básica para estes produtos culturais. E, por esta predisposição semiótica, seu vulto serviu ao projeto midiático de exaltação à figura de Barack Hussein Obama; processo reproduzido durante a última campanha eleitoral. Mas Obama transcendeu a comparação, convertendo-se em presidente dos Estados Unidos ao superar efetiva e pacificamente o conservadorismo do adversário e o legado de seu ídolo. Com a vitória, aliás, Obama encarnou a personificação iconográfica do ideal democrático ocidental: a identidade de herói – de carne e osso.
A crise econômica que agita o mercado internacional é um desafio à altura de Hollywood, e do intelecto de Obama. E liderar o esforço para superá-la diplomaticamente pode potencializar o reconhecimento da função referencial dos valores absolutos da nação estadunidense. Ou, parafraseando George Lucas, com Obama, O Império Contra-Ataca!

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Nas mãos do povo


O ramo do entretenimento é uma poderosa fonte de relativização de conceitos. Seu mote reduz a complexidade iconográfica de objetos representativos a estereótipos exagerados através do estímulo ao consumo. Uma dinâmica comum aos países onde o liberalismo econômico apresenta-se fantasiado de democracia - o chamado Primeiro Mundo -; territórios em que o marketing empenhado na construção de ícones políticos é facilmente anulado com o apelo humorístico de brinquedos que os ridicularizam. E a mais recente vítima deste impiedoso processo é o Primeiro-Ministro da França, Nicolas Sarkozy. Na semana passada ele perdeu a primeira batalha da guerra judicial que está travando contra a Tear Prod, empresa européia que produziu 20 mil exemplares de um boneco de vodu com o seu rosto. Mas Sorkozy deve recorrer, e continuar tentando impedir a venda do produto – disponível no site amazon.fr.
Para os representantes do Tribunal de Grande Instância de Paris, esta utilização não-autorizada da imagem de Sarkozy não atenta contra a dignidade humana nem constitui um ataque pessoal contra o Primeiro-Ministro. E mais; o juiz, que não teve o nome divulgado, afirma que o brinquedo se inscreve nos limites autorizados da liberdade de expressão e do direito ao humor. Aliás, Sarkozy também deveria rir das agulhadas. Afinal, a França é o berço de um povo que costumava condenavar Reis à guilhotina.